sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O endeusamento dos banqueiros centrais, versão brasileira

O caderno de fim de semana do Valor traz uma longa matéria cheia de elogios e demonstrações de sabujice em honra ao senhor presidente do Banco Central. Há (ou alguém está tentando criar) um amplo consenso que, graças a Tutatis, estamos em boas mãos e que nossa moeda é garantida por uma sumidade - o que pode ser verdade e pode não ser, e, para qualquer dos lados, não é nenhum indicador da qualidade do trabalho que está sendo feito no BC. Minha ranhetice, na verdade, não é com o Banco Central do Brasil ou com o Tombini, mas sim com esse processo de endeusamento. Algo aconteceu em uma ou duas gerações (as metas de inflação públicas? os anos de prosperidade "garantidos" pelo "maestro" Greenspan? o crescimento do setor financeiro?) que fez com que um trabalho que era técnico, algo burocrático e quase transparente (tente listar três presidentes do BC antes do Gustavo Franco, por exemplo. Gabarito aqui) virasse assunto de capa de jornal.  O tal endeusamento gera um descolamento entre a percepção e a realidade -- muitos acham Gustavo Franco, Armínio Fraga e Henrique Meirelles grandes e competentes economistas / financistas; poucos lembram do período com o câmbio fixo escandalosamente supervalorizado, dos anos em que a meta de inflação não foi cumprida e da alta de juros na semana em que a Lehman Brothers foi à falência -- que pode ser do interesse da mídia e do sistema financeiro (que emprega uma grande proporção de ex-presidentes e diretores do BC), mas é prejudicial para o debate e, em alguma medida, para a população. Economistas, como a frase do velho Keynes faz questão de lembrar a todos que acessam este blog, deveriam nivelar sua modéstia e competência com as dos dentistas; deixemos o status de estrela para artistas e jogadoras de curling norueguesas.

Sou mais bonita, e meu uniforme é muito mais cool do que o terno do Tombini.

3 comentários:

  1. No princípio era o ser.

    Daí, uns 2.000 anos atrás, alguém disse que "não basta ser. Têm que parecer". Era uma fofoca qualquer sobre uma primeira dama romana.

    Em algum momento entre os anos 1500 e 2000 o BPM (Bacilo da Propaganda e Marketing) foi alimentado com uma solução rica em açucares. Então deu-se início a um processo lento, gradual e seguro de transmutação das percepções, desaguando no "não precisa ser, basta parecer".

    Machado de Assis tocou nessa questão.

    No século 20, ou XX como preferem alguns, tudo se acelerou. Inclusive a reação química do tal bacilo. Um dos sintomas mais visível é a importância do Marqueteiro de Campanha Política. Em alguns casos, determinante.

    Mas isso é a face mais visível da questão. Existem inúmeros outros personagens tão importantes quanto. E construídos de forma muito mais discreta. Discreta por uma questão estratégica.

    E aí vem você e joga tudo isso no ventilador. Afinal, o que é que você pretende? Destruir o sistema?

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  2. Acho que, se eu quiser destruir o sistema, já achei um bom comparsa. Mas, por enquanto, bastaria ser apresentado à jogadora de curling da Noruega.

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  3. pô, essas gatas do curling são sensacionais !

    eita esporte bão !

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