
Esse é moleza. Quantas vezes, nos últimos meses, não se ouviu falar que o Brasil estava, finalmente, emergindo? No caso específico do mercado imobiliário, virou moda falar em "déficit habitacional", e as empresas de construção civil, praticamente inexistentes na bolsa há cinco ou dez anos, viraram estrelas, e a atividade de emenei no setor explodiu.
2 - Fé cega na competência das autoridades
Políticos brasileiros saíram da crise de 2008 / 2009 como semideuses. Guido Mantega dá conselhos no FMI e para o secretário do tesouro americano, Henrique Meirelles virou o melhor banqueiro central do mundo e Lula... melhor nem comentar.
3 - Crescimento dos investimentos
O Brasil, em termos de proporção do PIB, ainda é um país que investe pouco (cerca de 20%). Porém, no setor imobiliário, o boom é notável, com novas construções pipocando por todo o país. Dados consolidados do setor são escassos, mas, novamente, o crescimento das construtoras é um indicador confiável para este critério.
4 - Aumento de corrupção
No Brasil? Para aprovar obras que devem sair o mais rápido possível, para aproveitar um mercado pegando fogo? Novamente, não há dados... mas é perfeitamente plausível.
5 - Crescimento da oferta de moeda
Para a conceituação das diversas medidas de oferta de moeda no Brasil, veja a nota do Banco Central. Grosso modo, M1 é a medida mais restrita de oferta de moeda (papel moeda em poder do público + depósitos à vista), e M3 é a mais ampla (inclui depósitos a prazo, cotas de fundos, etc...). Pelos últimos dados do Banco Central, M1 cresce a 18,6% na comparação ano contra ano (só deixou de crescer, desde 2003, em dezembro de 2008); M2 a 9%; M3 a 15% -- todos os crescimentos maiores que o do PIB nominal, como um bom monetarista pregaria. Há alguns dias o Banco Central iniciou um aperto monetário que deve implicar em um arrefecimento desses ritmos de crescimento, mas o saldo dos últimos anos é fortemente expansivo.
6 - Regime de câmbio fixo
Desse mal nos livramos em 1999. Trocamos a volatilidade do mercado por ajustes mais ágeis e um menor acúmulo de desequilíbrios ao longo do tempo. Um regime com o câmbio fixo supervalorizado é receita para acúmulo de empréstimos em moeda estrangeira a taxas atrativas, que viram impagáveis quando há a necessidade de uma desvalorização cambial -- ver Argentina em 2001.
7 - Crescimento do estoque de crédito
O volume total de crédito ao consumidor no país praticamente dobrou desde 2006. O estoque de crédito imobiliário, no mesmo período, foi multiplicado por quatro (partindo de uma base pífia, devemos reconhecer, e chegando num nível ainda muito baixo por comparação com qualquer outro país de nível de renda similar).
8 - Presença de risco moral
Se o conceito não existisse, teria que ser inventado para explicar algumas situações no Brasil. Para ser honesto, o tema é mundial, na medida em que os governos parecem dispostos a não deixar ninguém sofrer com más decisões de investimento.
9 - Estrutura financeira precária (projetos não geram caixa para pagar os empréstimos com os quais foram financiados)
Ainda é difícil avaliar. Por enquanto as companhias parecem estar bem, obrigado. Mas, num ambiente de juros subindo, o fim da euforia pode jogar vários projetos nessa categoria.
10 - Aumento no preço de imóveis
É do que estamos falando. Altas percentuais de dois dígitos são sintomáticas e tendem a não se sustentar no tempo.
8 / 10. Dá para acender uma luz amarela, não? A "compensação" é que há tantas outras bolhas mais gritantes do mundo que, provavelmente, o estouro delas vai ajudar a normalizar as coisas no Brasil antes que elas implodam por força própria.
Eu sei que não faz parte dessa lista do estudo, mas sempre achei que um indício de bolha no mercado imobiliário seria quando o preço dos imóveis subisse muito e o preço do aluguel não. Hoje em dia dá pra encontrar facilmente imóveis em que o aluguel está abaixo dos 0,5% do valor do imóvel. Por que será que o preço do aluguel caiu (não acompanhou o crescimento do preço de venda) tanto? Meu palpite é que muita gente comprou para investir e não consegue alugar. Talvez eu esteja errado e o valor do aluguel passe a subir muito em breve, aí a teoria deixaria de valer, mas acredito que tem um monte de apartamento vazio por aí.
ResponderExcluirOutro ponto que eu posso agregar é a evolução do preço do m2 lá na minha área (Tatuapé / Mooca). Há cinco anos atrás o preço do m2 de um bom apartamento residencial girava em torno de R$1500,00. Três anos atrás o preço tinha subido para R$2000,00 e todo mundo achava que os imóveis estavam super-valorizados. No final do ano passado, o mesmo m2 girava em torno de R$4500,00 para apartamentos na planta e R$5500,00 para apartamentos recém entregues. Semana passada me ofereceram um escritório na mesma região, hoje no local só existe o terreno e uma placa, o preço de pré-lançamento é de R$6500,00 o m2.
Aonde isso vai parar?
Muito bem observada a relação aluguel / preço do imóvel -- aluguel é menos afetado por especulação, portanto é um indicador mais razoável de quanto o movimento é sustentável.
ResponderExcluirNos EUA, a regra de bolso é que você deve comprar um imóvel quando o preço é 10 vezes o aluguel anual e vender quando esse múltiplo chega a 20. Aplicando isso ao Brasil, um apartamento de R$ 500 mil estaria sobrevalorizado se o aluguel estivesse abaixo de R$ 2000 por mês, o que acho que não é o caso (pelo menos em São Paulo). Porém, o custo de oportunidade aqui é algumas vezes maior que nos EUA, o que deveria implicar em um aluguel proporcionalmente maior para que seja minimamente atrativo empatar capital em um imóvel (ao invés de aplicar em renda fixa). Se essa arbitragem acontecer, ou o preço dos aluguéis explode, ou o preço dos imóveis de fato está na lua.