quinta-feira, 15 de março de 2012

Gerenciamento de expectativas, versão brasileira

Cérbero, guardião da estabilidade monetária
1. Banco Central corta juros de surpresa, com inflação muito acima da meta (agosto/2011).

2. Inflação cede, Banco Central segue cortando juros (até fevereiro/2012).

3. Contra expectativas, BC acelera ritmo de cortes (março/2012).

4. Banco Central e governo continuam dando indicações de que querem o juro mais para baixo. Mercado "entende" o recado e passa a precificar ciclo de cortes maior / mais longo.

5. Na ata da mesma reunião em que acelerou o ritmo de cortes, Banco Central escreve (parágrafo 35):

Diante do exposto, e considerando os valores projetados para a inflação e o balanço de riscos associado, o Copom atribui elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nesses patamares se estabilizando.

Eu sou dos que acha que o valor da transparência nesse tipo de decisão é superestimado, e não concordo com boa parte das críticas feitas a esta gestão do Banco Central. Porém, não consigo ver como essa esquizofrenia pode ajudar na condução da política econômica do país. De novo, dá a entender que conveniências de última hora se sobrepõem a qualquer objetivo consistente. É o que temos.

9 comentários:

Henrique disse...

No ponto 3, é o Bacen que acelera o ritmo de cortes, não?

Em segundo lugar, quais os mínimos históricos da Selic? Qual a "meta" implícita de Selic que o Bacen tá buscando?

Anônimo disse...

O chique hoje em dia entre os países mais desenvolvidos é atingir a zero lower bound da taxa de juros. O Bacen está correndo atrás!

Drunkeynesian disse...

Henrique, verdade, vou arrumar lá.

Mínima da Selic foi 8,75% (em 2009), eu acho mesmo que o BC vai perseguir a promessa da Dilma de terminar o mandato com o juro real a 2% (com a inflação de hoje, daria algo como 7% na Selic). Por enquanto estou acreditando na história que essa sinalização foi para dar tempo de discutir as mudanças na indexação da poupança.

Tendência mundial é financial repression - governos procurando juros reais negativos para reduzir estoque nominal da dívida. Poupadores, cuidem-se.

Anônimo disse...

Com a poupança fixada em 6,17% + TR não tem nem sentido a SELIC ser muito menos de 8%.

Dawran Numida disse...

Bem, fica a impressão de que algo pode não estar indo muito bem. E que medidas emergenciais, em algum momento, deverão ser necessárias.

Apesar de dar ideia exatamente contrária ao dito acima.

Isso porque surge a dúvida de como vai enxugar o excesso de liquidez com a taxa de juros baixando tão abruptamente.

Anônimo disse...

Viés inflacionário

Anônimo disse...

Well pointed, DK..Sobre a comunicação do BCB com o mercado, virou bagunça depois da saida do Mario Mesquita em ´10, justamente por ser contra uma decisão 'política'. A ata desta reunião, 149, trás umas boas pérolas:

25. Em suma, o Copom avalia que, diante dos sinais de robustez da demanda doméstica, ocasionando redução da margem de ociosidade dos fatores de produção, evidenciada por indicadores de utilização da capacidade na indústria e do mercado de trabalho, e do comportamento recente das expectativas de inflação, aumentaram os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória das metas. Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos.

26. À luz dessas considerações, houve consenso entre os membros do Comitê quanto à necessidade de se implementar um ajuste na taxa básica de juros, de forma a conter o descompasso entre o ritmo de expansão da demanda doméstica e a capacidade produtiva da economia, bem como para reforçar a ancoragem das expectativas de inflação.

27. Nessas circunstâncias, a maioria dos membros do Copom, tendo em vista as informações disponíveis neste momento, aliado ao fato de que já está em curso o processo de retirada dos estímulos introduzidos durante a crise, entendeu ser mais prudente aguardar a evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião do Comitê, para então dar início ao ajuste da taxa básica. Por outro lado, os demais membros do comitê entendendo que as projeções de inflação e o balanço de riscos considerado justificariam o inicio do ajuste já nesta reunião, votaram por uma elevação imediata de 0,50 p.p., na taxa de juros básica.

Consta que o Meirelles sacou o Mesquita logo após a divulgação dessa Ata que, na minha opinião, diz que mesmo sendo certo elevar os juros naquele momento, por motivos estranhos o BCB optou por outro caminho.

Enfim...se continuar nesse ritmo, a Presidenta alcançará a meta de 2% de juros reais com 6.5% de inflação e 8.5% de juros. Well done...


TA

Dawran Numida disse...

Mas, o que parece, mesmo, é que estão difundindo sinais difusos.

Já há quem entenda como "meta de juros", o dito na ata sobre juros a 8,75%.

Marcelo Novaes de Oliveira disse...

"Anônimo disse...
Com a poupança fixada em 6,17% + TR não tem nem sentido a SELIC ser muito menos de 8%."

Anônimo, o governo já anunciou que indexará o rendimento da poupança também à taxa SELIC. Eu discordo 100% da indexação em todos os aspectos da economia brasileira, mas ela está aí...