sexta-feira, 28 de junho de 2013

Brasil, rumo a uma recessão?

É o que acha a BCA Research. Alguns dados compilados por eles:





quinta-feira, 27 de junho de 2013

Albert O. Hirschman e a Brahma

Malcolm Gladwell, abrindo um texto sobre Albert O. Hirschman:

In the mid-nineteenth century, work began on a crucial section of the railway line connecting Boston to the Hudson River. The addition would run from Greenfield, Massachusetts, to Troy, New York, and it required tunnelling through Hoosac Mountain, a massive impediment, nearly five miles thick, that blocked passage between the Deerfield Valley and a tributary of the Hudson. 
James Hayward, one of New England’s leading railroad engineers, estimated that penetrating the Hoosac would cost, at most, a very manageable two million dollars. The president of Amherst College, an accomplished geologist, said that the mountain was composed of soft rock and that tunnelling would be fairly easy once the engineers had breached the surface. “The Hoosac . . . is believed to be the only barrier between Boston and the Pacific,” the project’s promoter, Alvah Crocker, declared. 
Everyone was wrong. Digging through the Hoosac turned out to be a nightmare. The project cost more than ten times the budgeted estimate. If the people involved had known the true nature of the challenges they faced, they would never have funded the Troy-Greenfield railroad. But, had they not, the factories of northwestern Massachusetts wouldn’t have been able to ship their goods so easily to the expanding West, the cost of freight would have remained stubbornly high, and the state of Massachusetts would have been immeasurably poorer. So is ignorance an impediment to progress or a precondition for it?

Cristiane Correa em Sonho Grande, a história do império construído por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira:

No dia 6 de novembro de 1989 ele [Marcel Telles] pisou na cervejaria pela primeira vez. Um problema inesperado já o aguardava. Na ânsia de fechar o acordo com a Brahma, o Garantia dispensou a tradicional due dilligence, análise detalhada que o comprador realiza nas contas da empresa a ser adquirida antes que o negócio seja concretizado. Quando finalmente teve acesso a todos os números, Marcel tomou um susto. O fundo de previdência da cervejaria tinha um patrimônio de 30 milhões de dólares e uma necessidade de reservas para cumprir suas obrigações que somava 250 milhões de dólares - quatro vezes o valor que o banco havia pago para comprar a Brahma. Hoje, quando comentam o assunto, Marcel, Jorge Paulo e Beto dizem que foi ótimo não ter feito a lição de casa. Se soubessem o tamanho da encrenca, provavelmente não teriam levado o negócio adiante.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Um top 50 de Pol Antràs

O catalão Pol Antràs, professor de Harvard e pesquisador com foco em economia internacional, macroeconomia e teoria aplicada, publicou no Twitter ao longo das últimas semanas sua lista de 50 papers favoritos. Aí vão, em ordem cronológica. Para quem preferir, montei uma pasta no Google Drive com todos os arquivos.

1. Stability in Competition, Harold Hotelling, 1929

2. Cost Curves and Supply Curves, Jacob Viner, 1932

3. The Nature of the Firm, Ronald Coase, 1937

4. Protection and Real Wages, Wolfgang F. Stolper / Paul A. Samuelson, 1941

5. The Use of Knowledge in Society, Friedrich Hayek, 1945

6. A Difficulty in the Concept of Social Welfare, Kenneth J. Arrow , 1950

7. Some Thoughts on the Distribution of Earnings, A.D. Roy, 1951

8. A Value for n-Person Games, Lloyd Shapley, 1953

9. A Contribution to the Theory of Economic Growth (1956) e Technical Change and the Aggregate Production Function (1957), Robert M. Solow

10. An Exact Consumption-Loan Model of Interest with or without the Social Contrivance of Money, Paul A. Samuelson, 1958

11. The Problem of Social Cost, Ronald Coase, 1960

12. A Theory of Optimum Currency Areas, Robert Mundell, 1961

13. The Economics of Information, George J. Stigler, 1961

14. Investment in Human Capital: A Theoretical Analysis, Gary S. Becker, 1962

15. Uncertainty and the Welfare Economics of Medical Care, Kenneth J. Arrow, 1963

16. National Debt in a Neoclassical Growth Model, Peter A. Diamond, 1965

17. The Market for "Lemons": Quality Uncertainty and the Market Mechanism, George A. Akerlof, 1970

18. On the Measurement of Inequality, Anthony B. Atkinson, 1970

19. Optimal Taxation and Public Production I: Production Efficiency, Peter A. Diamond / James A. Mirrlees, 1971

20. Expectations and the Neutrality of Money, Robert E. Lucas, Jr, 1972

21. Job Market Signaling, Michael Spence, 1973

22. Are Government Bonds Net Wealth?, Robert J. Barro, 1974

23. Equilibrium in Competitive Insurance Markets: an Essay on the Economics of Imperfect Information, Michael Rothschild / Joseph Stiglitz, 1976

24. Expectations and Exchange Rate Dynamics, Rudiger Dornbusch, 1976

25. Rules Rather Than Discretion: the Inconsistency of Optimal Plans, Finn E. Kydland / Edward C. Prescott, 1977

26. Comparative Advantage, Trade, and Payments in a Ricardian Model with a Continuum of Goods, Rudiger Dornbusch / Stanley Fischer / Paul Samuelson, 1979

27. On the Size Distribution of Business Firms, Robert E. Lucas, Jr, 1978

28. Stochastic Implications of the Life Cycle-Permanent Income Hypothesis: Theory and Evidence, Robert E. Hall, 1978

29. A Model of Innovation, Technology Transfer, and the World Distribution of Income, Paul Krugman, 1979

30. Moral Hazard and Observability, Bengt Holmstrom, 1979

31. Scale Economies, Product Differentiation, and the Pattern of Trade, Paul Krugman, 1980

32. Optimal Auction Design, Roger B. Myerson, 1981

33. Perfect Equilibrium in a Bargaining Model, Ariel Rubinstein, 1982

34. Selection and the Evolution of Industry, Boyan Jovanovic, 1982

35. Aggregate Demand Management in Search Equilibrium, Peter A. Diamond, 1982

36. Strategic Information Transmission, Vincent P. Crawford / Joel Sobel, 1982

37. Equilibrium Unemployment as a Worker Discipline Device, Carl Shapiro / Joseph E. Stiglitz, 1984

38. On the Mechanics of Economic Development, Robert E. Lucas, Jr, 1988

39. On Money as a Medium of Exchange, Nobuhiro Kiyotaki / Randall Wright, 1989

40. Industrialization and the Big Push, Kevin M. Murphy / Andrei Shleifer / Robert W. Vishny, 1989

41. Endogenous Technological Change, Paul M. Romer, 1990

42. Property Rights and the Nature of the Firm, Oliver Hart / John Moore, 1990

43. Economic Growth in a Cross Section of Countries, Robert Barro, 1991

44. The O-Ring Theory of Economic Development, Michael Kremer, 1993

45. Distributive Politics and Economic Growth, Alberto Alesina / Dani Rodrik, 1994

46. Protection for Sale, Gene M. Grossman / Elhanan Helpman, 1994

47. Credit CyclesNobuhiro Kiyotaki / John Moore, 1997

48. Why Do New Technologies Complement Skills? Directed Technical Change and Wage Inequality, Daron Acemoglu, 1998

49. Income inequality in the United States, 1913–1998, Thomas Piketty / Emmanuel Saez, 2003

50. The Impact of Trade on Intra-Industry Reallocations and Aggregate Industry Productivity, Marc J. Melitz, 2003

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Som da Sexta - Mostly Other People Do the Killing

Claro que só precisei do nome para me interessar pela banda, mas o som compensa. O baterista parece uma reencarnação híbrida do Keith Moon e do Elvin Jones.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Frases do Dia - Turquia e Brasil

In 2002, Turkey was just coming out of a severe financial crisis, so there is a case to be made that any growth calculation that takes 2002 as the base year mixes up real growth with the bounce back from the crisis.

Deste post de Dani Rodrik sobre a economia turca nos últimos anos. Deveria valer em alguma medida também para certo país ao sul do Equador, não?

Paint it red

Hoje vai ser um longo dia...


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Uma parada súbita no Brasil?

Do alto das minhas burrice e teimosia, ainda estou tentando entender qual foi o trem que passou por cima dos ativos brasileiros. Não consigo aceitar a simples e popular tese de que investidores estão deixando o país porque a política econômica é ruim ou algo do tipo. Não que isso, em certa medida, não seja verdade; apenas acho que nada piorou muito com relação a, digamos, o final do ano passado.

Uma parte do movimento é global, direcionado a mercados emergentes. A maioria das moedas desses países perdeu valor contra o dólar, e a possibilidade de alta de juros nos EUA despertou um temor que falte financiamento para quem tem que cobrir déficits em conta corrente. A intensidade da queda do preço de ações e títulos de renda fixa brasileiros nas últimas semanas me faz desconfiar que a percepção desse risco embute alguma urgência, e que o país pode estar começando a sofrer com uma clássica parada súbita de financiamento externo.

Há boas razões que justificariam uma parada súbita no Brasil: as contas externas vêm se deteriorando rapidamente; a taxa de câmbio segue muito valorizada, oferecendo baixa margem de segurança para novas aplicações de estrangeiros; há grande decepção com o retorno de investimentos passados; o problema de inflação ainda parece longe de ser contornado. Porém, há tantas outras para que o Brasil não esteja na linha de frente caso o tema seja mesmo de falta de financiamento para emergentes: o estoque de reservas internacionais é relativamente grande, a dívida soberana é das poucas a pagar juros reais positivos e não depende tanto de estrangeiros para ser rolada, o sistema bancário é bem capitalizado e não empresta em moeda estrangeira; e, pô, no fim das contas, a Monica Bellucci veio morar aqui.

Já escrevi inúmeras vezes aqui que o tamanho da queda do Brasil é proporcional ao tamanho da ilusão de sua subida. Tenho me provado consistentemente errado ao achar que o pessimismo era extremo, mas ainda não consegui me convencer de que o Brasil tem os piores fundamentos, que justifiquem o pior mercado de ações do mundo por tanto tempo e juros longos de volta a 11%. Continuando essa situação, porém, as narrativas devem aparecer; sigo buscando alguma coerente.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Economia em uma frase

Desse texto do escritor John Lanchester (acho que o Tyler Cowen que tinha indicado há alguns meses):

Richard Feynman was once asked what he would pass on if the whole edifice of modern scientific knowledge had been lost, and all he could give to posterity was a single sentence. What axiom would convey the maximum amount of scientific information in the fewest possible words? His candidate was ‘all things are made of atoms.’ In a similar spirit, if the whole ramshackle structure of contemporary macroeconomics vanished into thin air and the field had to be reconstructed from scratch, the sentence which packs as much of the discipline into the fewest possible words might be ‘governments are not households.’ The principles of running an economy are in many crucial respects different from those of keeping your own finances in order. 

E depois:

The fact that the people in charge of recommending huge cuts in public spending don’t, at this basic level, fully understand the economic effect of those cuts, is surprising only if you’re unfamiliar with just how little certainty there is in the world of macroeconomics. (An alternative single-sentence summary of the entire field would be ‘nobody knows anything.’) 

Sem pensar muito, acho que minha frase seria "pessoas respondem a incentivos". Qual seria a sua?

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Cientistas no dinheiro

O Kottke disse ontem que "os países cool colocam cientistas em suas cédulas", com links para vários exemplos. Bem, um dia já fomos cool - pelo menos  para isso serviu a época de trocar de dinheiro a cada par de anos:

Oswaldo Cruz - 50.000 cruzeiros, 1984


Carlos Chagas - 10.000 cruzados, 1988


Augusto Ruschi - 500 cruzados novos, 1990


Vital Brazil - 10.000 cruzeiros, 1991



Desculpas aos pesquisadores que eventualmente chegarem neste post pelo Google procurando recursos para seus projetos. Ainda não.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Alguns pitacos de economista sobre as tarifas de ônibus em São Paulo

Como o assunto é quente e eu não consigo me segurar, aí vai minha opinião amadora:

- Se o serviço de transporte urbano fosse 100% privado e cobrasse um preço de mercado (que permitisse pagar por toda a operação em um padrão decente e garantisse um lucro de mercado para o capitalista), provavelmente o preço da passagem seria muito mais alto do que o atual. Num modelo como o de São Paulo, em que a tarifa é a mesma para a cidade toda, linhas mais lucrativas financiariam linhas menos lucrativas (mas necessárias) e a tarifa seria uma média; se fosse permitida segmentação, provavelmente haveria muita diferença de preço entre linhas.

- O modelo de São Paulo envolve empresas privadas e subsídios públicos, de forma que a tarifa é o resultado de um equilíbrio entre (i) quanto as empresas precisam receber para ter algum lucro, pagar os empregados e manter o serviço em um padrão mínimo (ainda longe do ideal, claro); (ii) quanto a prefeitura pode gastar em subsídios e (iii) quanto os passageiros podem pagar.

- Quanto maior a distância entre a tarifa e o preço de mercado definido acima, maior tem que ser o subsídio dado pela prefeitura às viações. Quanto maior o subsídio, mais sensível é o tema de distribuição: a prefeitura arrecada de todos os cidadãos e, nesse caso, gasta mais ou menos com os que utilizam o transporte público. O orçamento municipal é limitado e costumeiramente apertado, o que implica que um aumento no subsídio deve levar a cortes em outras áreas, criação de novas receitas ou mais endividamento.

- Com todas essas restrições, se os custos das empresas de fato aumentam com o tempo, se o lucro dessas empresas é compatível com o mercado, e se o orçamento da prefeitura está no limite, não resta alternativa a aumentar a tarifa. Sem o aumento, ou o serviço piora, ou as viações saem do mercado, ou a prefeitura gasta o que não pode e compromete outras áreas essenciais (claro que o ideal seria cortar salário de vereador, regalias, etc... mas isso não dá pra resolver numa canetada).

- Eu não gosto do modelo atual, envolvendo o setor privado. Preferiria uma operação 100% pública (ainda que, no contexto atual, entenda que é preciso tirar a execução do setor público para que funcione), e aí a discussão seria outra: da essencialidade do serviço e como seus custos e benefícios são distribuídos. Como acho tratar-se de um serviço essencial e utilizado sobretudo pelos mais pobres, vejo bastante sentido em dar um subsídio pesado, cobrar uma tarifa bastante baixa e compensar com alguma taxa ou imposto progressivo - algo como implementar um pedágio urbano ou um imposto sobre os combustíveis e fazer com que os motoristas particulares financiem o sistema. Mas, de novo, pra fazer isso é preciso tirar o setor privado da jogada. Quer envolver o setor privado, tem que garantir um lucro compatível com o risco da operação e do mercado. Sair disso é botar a operação em risco ou tentar compensar "por fora", gerando incentivos para corrupção e negociatas.

- Considerando a realidade de São Paulo hoje, levantar a bandeira de "tarifa zero" é puro populismo, canalha ou mal pensado. Pode-se avaliar passos nessa direção (como descrevi acima), mas não dá para imaginar que é possível, de um dia para outro e só com "vontade política", liberar todas as catracas da cidade. Também seria desejável todo cidadão ter saneamento básico em casa, educação decente e tudo mais que está na Constituição, mas não tem ninguém parando a cidade por isso, talvez por haver um consenso na sociedade de que esses problemas complexos têm resoluções demoradas.

- Mesmo em uma cidade onde o orçamento fosse pensado considerando transporte público serviço essencial e dever da prefeitura, provavelmente haveria bons motivos para a tarifa não ser zero - dar à população noção dos custos, estudos que mostram que o patrimônio público é melhor preservado se o preço é usado para atribuir algum valor a ele, regular minimamente a demanda, facilidade na divisão do orçamento, alguma competição entre as secretarias municipais, etc... Pessoal de economia comportamental, ajude aqui.

- Apelando para uma regra de bolso minha (= a melhor política pública do mundo está na Noruega, e eles já pensaram muito bem em tudo isso), a passagem de ônibus em Oslo custa 30 coroas, mais ou menos o mesmo preço de uma lata de Coca-Cola por lá (ambos absurdamente altos para nós, mortais, algo como 11 reais) - e ninguém duvida que a capital do país mais rico do mundo poderia abolir a tarifa, de modo que esse preço deve servir para sinalizar alguma coisa. Em São Paulo essa relação, grosso modo, também se observa. Porém, pensando que o problema de distribuição aqui é muito mais agudo, a tarifa deveria ser mais baixa, mas aí voltamos aos problemas listados acima.

- Outra questão curiosa é: por que esse aumento de 2013, com o brasileiro médio na sua melhor situação de emprego / renda em muitos anos, tem gerado tantos protestos, muito mais do que outros dados com o país em condições muito piores? Deixo essa para os sociólogos de plantão.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A "arenização" do Brasil

Arena Amazônia, vulgo Elefantão
Quem tem o mau hábito de acompanhar o mercado financeiro ou o fluxo de notícias econômicas, provavelmente nos últimos dias se perguntou, tal qual os personagens do fabuloso Conversa na Catedral: em que momento o Brasil se fodeu (neste ciclo, claro, não vai ser a primeira vez, nem a segunda, terceira, quarta, etc)? Pois bem, amigos, minha resposta é: o Brasil se fodeu quando começou a construir / reformar estádios de futebol e chamar esses novos projetos de "arenas".

A "arenização" do Brasil começou, claro, com o sucesso da candidatura para sediar a Copa do Mundo de 2014. O governo novo-rico achou por bem jogar no lixo qualquer critério econômico para definir como seriam os gastos para o Mundial. Primeiro, ao fazer questão de doze cidades-sede (a Copa de 1994, nos Estados Unidos, de dimensões parecidas, tinha nove). Segundo, ao incluir entre essas cidades algumas onde grandes estádios jamais proverão grandes benefícios à população, quanto menos retorno financeiro (ficaram famosas as contas dos séculos que seriam necessários para pagar o estádio de Manaus, por exemplo). Terceiro, ao decidir construir novos estádios mesmo em cidades onde seria possível apenas reformar estádios já existentes (como São Paulo e Recife).

Sediar uma Copa do Mundo tem custos conhecidos e benefícios difíceis de serem medidos diretamente. Pode-se escolher gastar mais ou menos para resultados parecidos, e o Brasil claramente resolveu esbanjar - por húbris ou pela conveniência política de atender aos interesses de uma legião de rent-seekers, numa oportunidade que dificilmente se repetirá em uma geração.

A mania, porém, não se limitou ao governo e aos estádios da Copa: clubes como Grêmio e Palmeiras também resolveram erguer suas arenas, mesmo sem sediar jogos do Mundial e contando apenas com financiamento do setor privado. Bom para os clubes, talvez não tão bom para quem colocou dinheiro nas obras - e esse é um problema compartilhado com quem investiu em muita coisa no Brasil. Os que conhecem melhor os detalhes corrijam as minhas possíveis leviandades, mas imagino que esse investimento está baseado em algumas premissas, como:
  • O espectador de futebol brasileiro enriqueceu e seguirá enriquecendo, portanto poderá pagar mais caro por ingressos, estacionamento, comida, material esportivo, etc;
  • O futebol brasileiro está melhor e deverá atrair um público médio crescente;
  • A gestão dos clubes está mais profissional, o que reduz riscos de operação ou de quebra de contrato;
  • As arenas poderão ser utilizadas para shows, cobrando bons aluguéis, já que o público brasileiro paga os ingressos mais caros do mundo;
  • As arenas atrairão empresas dispostas a pagar muito para atrelar seu nome a elas;
  • Os juros brasileiros caíram e permanecerão baixos, de forma que investimentos são atrativos mesmo com taxas de retorno baixas para o padrão histórico do país.
Algumas dessas premissas podem ser verdadeiras, mas muitas dependem da concretização da frase mais cara para qualquer investidor: "desta vez é diferente". Mudanças de paradigma ocorrem menos frequentemente ou são menos previsíveis do que os vendedores de projetos querem fazer os investidores acreditar. Creio que muito do sentimento atual com os mercados no Brasil é fruto menos de uma piora nos fundamentos ou na condução da política econômica do que de um reencontro com a realidade de premissas exageradamente otimistas e alguns delírios e fraudes. Na mesma linha, no campo das finanças públicas, hoje o Mansueto escreveu:

Nesse sentido, não ficaria espantado caso comecem em breve a aparecer papagaios mesmo nas arenas que não contaram com dinheiro público (rombos nos clubes aparecerão de qualquer jeito, sempre aparecem - já escrevi um pouco sobre isso aqui). Projetos desse tamanho são instrumentos de investimento difíceis: exigem grande capital na saída para retornos ao longo de muitos anos, horizonte no qual incertezas inicialmente desconhecidas aparecem e se compõem com as já conhecidas.

Evidentemente não serão só as "arenas" que terão fodido o país, mas vejo-as como os maiores símbolos da combinação de arrogância, exagerado otimismo, planejamento tosco e picaretagem que vêm derrubando o Brasil, como foram para a Espanha os aeroportos e condomínios no meio do nada ou para Dubai os arranha-céus futuristas. A decisão de enterrar dinheiro (grande parte público) em estádios de futebol será vista como o marco do auge de um ciclo em que o Brasil imaginava estar na rota inevitável para se tornar um país rico, apenas para, poucos anos depois, perceber que tínhamos tido pouco mais do que a sorte de, por um tempo, produzir o que os chineses queriam comprar em grandes quantidades.

Fico apenas nos aspectos econômicos, mas há outras discussões relevantes para o fenômeno das arenas - como elas marcam uma descaracterização do público tradicional de futebol no país, os estragos em patrimônios arquitetônicos (a notícia mais recente é - ugh - de uma possível "arenização" do Pacaembu pela nova prefeitura neoliberal - e fica como exercício para o leitor mais desocupado tentar criar um cenário onde São Paulo pode manter três arenas multiuso viáveis), e, possivelmente, tantas mais. Deixo-as para outros cientistas sociais mais capacitados. De qualquer maneira, no futuro, quando passar com meus eventuais netos pelas ruínas de uma dessas arenas, usarei-as para contar, dentro das limitações da minha bagagem, a história de como, na minha geração, o Brasil se fodeu.


P.S. Este texto tem uma mea culpa implícita. Eu fui dos que, tolamente, ignorei os amigos mais céticos e acreditei que a Copa e as Olimpíadas seriam aproveitadas para ajudar a decolar o investimento em infraestrutura. Erro crasso. Continuamos na cultura do "puxadinho" e de privilegiar qualquer critério imediatista antes de pensar o país para além de um par de anos. Há poucas semanas ouvi o Marcelo Odebrecht em um evento; ele adiantou que o legado da Copa será "quase nulo" e que as Olimpíadas provavelmente deixarão algo positivo - para o Rio de Janeiro. Considerando o montante de investimento federal envolvido, pensemos na injustiça que é o país inteiro subsidiar melhorias para uma das cidades mais ricas do país (ainda que, claro, com todos seus problemas e demandas urgentes, mas não mais urgentes de que as de outras cidades menos badaladas e que continuarão esquecidas).

terça-feira, 11 de junho de 2013

O annus horribilis do Ibovespa

O Ibovespa já caiu mais de 20% em 2013; abaixo, entre as ações do índice, as que mais contribuíram para essa queda e os poucos papéis que tentaram ajudar:


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Gráfico do Dia - a fuga dos emergentes

Roubado do Paweł Morski, a surra que as moedas de países emergentes estão levando de um mês pra cá. Aqui, a culpa não é da Dilma ou do BC...


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Frases do Dia - Keynes e os keynesianos

A sagacidade de Keynes no debate público é melhor lembrada por sua observação de que "no longo prazo todos estaremos mortos", mas Keynes não se reconheceria nessa indiferença contemporânea pelos riscos de longo prazo. Recentemente, ouvi a história de que, ao sair de uma reunião de economistas keynesianos no Canadá, após o acordo de Bretton Woods, Keynes observou que provavelmente era o único economista não keynesiano na sala.

André Lara Resende no Valor de hoje.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Leituras das Últimas Semanas

Adam Smith faria 290 anos hoje
- Reforma e contra-reforma dos sistemas bancários do mundo desenvolvido, por Andrew Haldane.

- Entrevista com a brasileira Leda Braga, da BlueCrest, uma das gestoras (de qualquer gênero) de fundos  mais bem sucedidas do mundo.

- Apresentação de Dani Rodrik sobre a crise europeia.

- Uma volta dos bond vigilantes?

- Keynes: “How long will it be found necessary to pay City men so entirely out of proportion to what other servants of society commonly receive for performing social services not less useful or difficult?

- Bresser-Pereira, depois de longos anos, jogou a toalha com a economia argentina. Salve-se quem puder.

- Longa reportagem do Financial Times sobre a Colômbia.

- Uma resenha da autobiografia de Benoît Mandelbrot.

- Versão eletrônica grátis da autobiografia de Deirdre McCloskey.

- Boa análise da política econômica do futebol brasileiro.

- As hospedagens mais caras do mundo.

- Porque a educação na Finlândia é tão boa.

- Dambisa Moyo x Bill Gates.

- Tyler Cowen sobre Borgen.

- Um ótimo ensaio sobre ensaios.

- Os 15 países mais difíceis de se visitar.

- O que se aprende usando apenas produtos do Google.

- Para quem gosta de drogas pesadas, vários downloads gratuitos de Anthony Braxton.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Gráficos do Dia - reservas, Peru e Brasil

Anteontem o Inca Kola News postou esse gráfico das reservas internacionais do Peru, que tiveram uma inflexão no meio de abril:


As reservas do Brasil pararam de crescer em setembro do ano passado. O banco central ainda não começou a vender dólares para o mercado (essa queda recente provavelmente é totalmente explicada pela marcação a mercado da carteira de títulos que o país carrega), mas, aparentemente, chegaram ao fim os tempos em que todo mês sobravam dólares no mercado para o BC comprar.


segunda-feira, 3 de junho de 2013

"I brought you a Nobel-winning economist..."

Dilbert de hoje. Qualquer semelhança com Paul Krugman deve ser só coincidência, claro (se bem que o desenho parece mais com o... Lula!).


Manual de sobrevivência na universidade

O autor é o Leo Monasterio, que vem sobrevivendo a muitos anos de universidade e também faz um dos melhores blogs de economia da Pindorama. Não fui eu que contei, mas só hoje o e-book está disponível de graça na Amazon, aproveite.