Entre o que aconteceu de surpreendente no ano passado, nada me espanta mais do que a Zona do Euro ter chegado a 2013 funcionando e com exatamente a mesma composição de um ano atrás. Dentro desse tema, cresce o espanto ao ver que as taxas de juros pagas pelos títulos dos governos que usam a moeda entraram novamente em convergência, diminuindo a diferença para os títulos da Alemanha.
De algum jeito, Mario Draghi, seus colegas tecnocratas e políticos conseguiram: conter uma corrida bancária que, em vários momentos, pareceu se iniciar na Grécia, Portugal e Espanha; evitar a eleição de partidos radicais, que poderiam tirar unilateralmente seus países do acordo monetário; administrar as divergências internas da comunidade e garantir linhas de salvamento para todos os países em crise mais aguda; e fomentar programas de austeridade mesmo em países com alto desemprego e grande pressão por mais gastos públicos. Não é pouca coisa, e só foi conseguido às custas de alguns pactos faustianos, de alto risco: aumento do "risco moral" do sistema (bancos não quebram mais, ponto final); potencial da austeridade gerar mais um longo período de desemprego alto e consequente radicalização política; enormes desequilíbrios entre os balanços de bancos centrais nacionais (o sistema TARGET2, mais neste paper do BIS) e distorção dos mecanismos de mercado para vários preços importantes (notadamente, o custo de financiamento público).
Para o futuro, creio, uma hipótese importante a ser testada (emprestada do Taleb) é se essa supressão de volatilidade implicará em rupturas mais profundas. Afinal, a vida da maioria da população e sua capacidade de consumir ou pagar dívidas não parece ter melhorado, e deve haver um ponto em que a insistência na austeridade, se não gerar resultados concretos para o emprego, passe a ajudar na plataforma de partidos de oposição mais radicais do que aqueles eleitos nas votações mais recentes. Assim, os maiores riscos tornaram-se ocultos, longe das telas de cotações de preços e sujeitos a dinâmicas pouco previsíveis e de grande impacto.
Por enquanto, sobra aos pessimistas o rótulo de Cassandra, já que as apostas vencedoras das quais se têm notícia foram na capacidade dos governos contornarem a crise e na reação que isso gerou nos mercados - como exemplo, basta dizer que ativos gregos forneceram grandes retornos no ano passado. Não há como ignorar, porém, a deterioração progressiva da representatividade de alguns governos e a tentativa de domar grandes sistemas complexos com medidas centralizadas. A história mostra algumas consequências desastrosas dessa combinação e, infelizmente, não vejo porque acreditar que desta vez será diferente. Porém, anos podem se passar sem que nada aconteça, o que inviabiliza boa parte das teses de investimento baseadas nessa ideia. Resta buscar opcionalidades e, sobretudo, evitar a tentação de eventuais ganhos de curto prazo em ativos sabidamente ruins.
DK, cadê aquele post sobre análise técnica prometido no ano passado???
ResponderExcluirAbs
RM
HAHAHAHAHAHAHA, um dia ele vem.
ResponderExcluirA Cassandra sempre esteve certa; a punção dela por não dar para o Apolo era estar certa, mas nunca conseguir que alguém acreditasse nela.
ResponderExcluirAbs
Apostar no Thanksgiving ou virar peru e encher a pança?
ResponderExcluirMaradona
Chamou?!
ResponderExcluirApollo Creed