sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Som (filme) da Sexta - Soul Power

Hoje, como muito bem lembrou o Balu, a maior luta de boxe da história faz 35 anos. Claro que estou falando do rumble in the jungle, o fantástico combate em Kinshasa, Zaire (hoje República Democrática do Congo) entre o então campeão George Foreman (hoje deve ter gente que só o conhece como vendedor de grelhas elétricas...) e o "decadente" Muhammad Ali. Como sabemos, Ali venceu de forma épica e o episódio rendeu pelo menos um excelente livro (A Luta, de Norman Mailer) e um documentário ganhador do Oscar (Quando Éramos Reis).

Como para o megalomaníaco Mobutu Sese Seko a luta não bastava, foi também organizado, como aperitivo, um pequeno e humilde festival de música negra, com a presença de: B.B. King e James Brown (dois monstros no auge da carreira), a cantora cubana Celia Cruz, Manu Dibango (o pai do soul africano, que Michael Jackson citou em Wanna Be Startin' Somethin'), Miriam Makeba, The Spinners e Bill Withers. Ano passado esse festival também ganhou um documentário -- Soul Power -- que está sendo exibido na Mostra de Cinema de São Paulo e cujo trailler está aqui. Para quem perder essas poucas sessões (como eu), o filme deve estrear regularmente no dia 11 de dezembro. Assista à luta, leia o livro, veja os filmes -- e tenha um bom feriado.

Vídeo do dia - Hugh Hendry

Hugh Hendry é o CIO da Eclectica Asset Management, uma companhia de gestão de recursos baseada em Londres. Escutá-lo falar é sempre um desafio às idéias estabelecidas e ao senso comum. Este é o primeiro de uma série de oito vídeos; as sequências estão nos links à direita da janela. Para quem gostar do assunto, tiver paciência e conseguir compreender o sotaque escocês, é uma grande aula.

Lords of Finance - Business Book of the Year

O livro que conta a história da Grande Depressão concentrando-se nos principais banqueiros centrais do mundo ganhou o prêmio do Financial Times (ainda não saiu em Português, mas, acredito, isso deve acontecer em breve). Não li os outros indicados, mas, no absoluto, posso dizer que foi uma boa escolha. Nunca é demais aprender com os erros do passado, e o timing não poderia ser mais apropriado. E uma das mensagens que fica é: banqueiros centrais são seres perigosos. Cuidado com eles.

Update: a Folha de hoje (4/11) diz que a editora Campus Elsevier (que publica os livros mais caros do Brasil) vai lançar a obra em Português em janeiro.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Je vous salue Astérix

Há exatos 50 anos, um grupo de irredutíveis gauleses era apresentado ao mundo pelas mãos geniais de René Goscinny e Albert Uderzo. Saudações ao jubileu de ouro de uma das grandes séries em quadrinhos da história, repleta de humor inteligente e politicamente incorreto. Que mais gerações aprendam sobre os hilários estereótipos europeus nas páginas das revistas do Asterix.

(para o post ter algum número "sério": a série Asterix vendeu 325 milhões de cópias no mundo, o que faz de Goscinny e Uderzo os autores franceses mais lidos no exterior. Que pena, Proust.)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mais uma ação para o longo prazo...

... já que, no curto, a performance foi um desastre. As ações da CETIP estrearam hoje na Bovespa, com queda de 10,3% do preço da emissão (R$ 13). Mais uma vez, nem sinal da eficácia da "estratégia vencedora".

Sobre ações para o longo prazo, ver aqui.

Atravessando a fronteira por uma Guinness

O Free Exchange, da The Economist, traz mais uma anedota fascinante sobre taxas de câmbio e poder de compra. Com a mesma conclusão: o Reino Unido está ficando barato, acredite se quiser.

Soros e a nova economia

Anatole Kaletsky escreve sobre a tentativa de George Soros de apressar a morte da velha economia, com a criação do Institute for New Economic Thought.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paulistanos, esses milionários (ou: londrinos, esses pobres)

Se você é paulistano, está passeando por Londres e quer se sentir em uma cidade barata, basta entrar no Mc Donald's mais próximo. Segundo a Bloomberg, o Big Mac na capital britânica custa, a taxas de câmbio correntes, cerca de R$ 6,50 (£ 2,29), contra R$ 8,00 em São Paulo (melhor não fazer a conta como proporção da renda, já que o PIB per capita britânico ajustado pelo poder de compra é cerca de 3,5 vezes maior que o brasileiro).

O interessante é que, na mesma matéria, nenhum dos economistas citados acha estranho o que há bem pouco tempo soaria como um grande absurdo. Para eles, os "fundamentos" e o crescimento superior do Brasil justificam uma taxa de câmbio apreciada e, como consequência, um dos Big Macs mais caros do mundo. O nível de euforia com o país é, de fato, imenso -- na mesma proporção que a desesperança com os EUA e a Inglaterra. Euforia num extremo, desilusão no outro: receita para grandes distorções nos preços relativos.

O real deve, de fato, tornar-se uma moeda mais forte no longo prazo, o que deve implicar em um Brasil mais caro -- o país está enriquecendo, e o efeito Balassa-Samuelson é bem estudado e suportado empiricamente. Isso não elimina, porém, a existência de exageros no caminho. No nosso exemplo, o Brasil ainda é um país pobre, e o Reino Unido ainda não consumiu seu grande estoque de riqueza. E o exemplo do Big Mac serve para ilustrar que, talvez, o real, como as ações de empresas nacionais, já esteja bastante caro.

Fala Bill Gross

Interessante ver que, assim como Grantham (ver post abaixo), Gross (principal cabeça da PIMCO, maior gestor de renda fixa do mundo), na sua última carta, está pessimista com o futuro próximo dos EUA -- uma economia que cresceu nos últimos anos com base na criação de riqueza no "papel" e agora está vendo trilhões de dólares de contribuintes sendo usados para sustentar esse mesmo modelo.

Jeremy Grantham - carta trimestral

Já citei aqui algumas vezes o Jeremy Grantham. Sua carta trimestral é, provavelmente, das coisas mais inteligentes escritas sobre mercados que você vai ler até o final do ano.

Jeremy Grantham's Quarterly Letter - 3Q09

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Festival de extrapolação aplicada ao mercado (3)



Dando sequência a nossa série, por enquanto temos um vencedor: 85 mil pontos até o meio de 2010.

Férias em Gana

Bolgatanga e a floresta de Katum podem se tornar nomes conhecidos para o turista americano. Paul Kedrosky nota que, neste ano, apenas nove moedas no mundo (!!!) estão se desvalorizando contra o dólar. O maior movimento é o do cedi de Gana, que perdeu 13%. Nossos vizinhos argentinos também fazem parte dessa seleta lista. E, para o americano que se dispõe a pedir um visto e enfrentar 10 horas de vôo para conhecer o Corcovado ou ver o que a baiana tem, os preços em real estão hoje cerca de 35% maiores do que no final do ano passado. É o preço do sucesso, como diria nosso querido ministro Mantega.

Você sabe que um país está mal...

... quando o Mc Donald's resolve abandoná-lo porque os custos dos insumos dobraram de um ano para cá e é inviável aumentar os preços para recuperar algo da margem de lucro. Nem na Argentina dos piores dias isso aconteceu.

Mais no Financial Times: Icelandic collapse complete

Espelho, espelho meu

As ações nos EUA ainda têm muito espaço para subir porque o retorno desses ativos no ano, quando comparado ao de títulos corporativos de alto risco (junk bonds), é o menor desde 1986.

Esse é, em resumo, o conteúdo de uma das notícias de hoje da primeira página do site da Bloomberg. Mostra o nível dos argumentos que alguns tem usado para justificar a premissa que preços de ações devem continuar subindo. A lógica, além de não passar pela navalha de Occam, pode ser usada também para prever um grande problema no mercado de junk bonds -- a gosto do freguês. O mercado está começando a ficar divertido.

Para quem acha o Brasil barato

De uma matéria do Financial Times de ontem, destacada por Andrew Shawn:

“The BM&FBovespa ex-change is worth more than the New York Stock Exchange, Nasdaq and London Stock Exchange combined, while Itaú Unibanco, with a $96bn market capitalisation, is the world’s 12th largest bank. Talk that it considered buying Morgan Stanley last year still brings a gleam to local deal-makers’ eyes. With the economy heading for growth of at least 4 or 5 per cent next year, there is a feeling”

Pós fato, não falta gente para explicar essa euforia e justificar porque a bolsa brasileira TEM que valer mais do que três das maiores bolsas do mundo, somadas. Incrível.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

(A volta do) Som da Sexta - Eldar

O fato de um pianista de 19 anos (hoje tem 22, o vídeo é de 2006), nascido no Quirguistão (não é mentira!), tocar como um negro americano da primeira metade do século passado deve dizer algo sobre música. Bom final de semana a todos.

Festival de extrapolação aplicada ao mercado (2)

Mais um para nossa amostra:



quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Mais uma chance (ou: errar duas vezes é humano...)

"You tried your best, and you failed miserably. The lesson is: never try."
Homer Jay Simpson


John Meriwether é um especialista em tentar pegar moedinhas no caminho de um rolo compressor e terminar atropelado, como personagem de desenho animado. Já foi responsável por duas gestoras de investimentos que fizeram água -- a JWM e a Long-Term Capital Management, esta de forma épica, tendo como sócios dois Nobel de economia e obrigando o Fed de Nova York a organizar uma operação-resgate, temendo um contágio para o restante do sistema financeiro. Agora, como a nossa GWI, ele testa a memória curta do mercado, abrindo uma nova companhia (de nome JM Advisors Management).

A analogia do rolo compressor serve para estratégias que dependem de um ambiente de dinheiro abundante, onde é possível conseguir pequenos ganhos (as moedinhas) arbitrando pequenas imperfeições em diversos mercados com diferentes níveis de liquidez. O rolo compressor vem quando, por qualquer motivo, o medo aparece no mercado, o dinheiro migra em massa para ativos líquidos e as pequenas imperfeições tornam-se grandes distorções, distantes de qualquer "racionalidade" ou modelo estatístico.

A volta de Meriwether parece ser mais um sinal da volta da "normalidade" aos mercados, e da impressão de que as chances de um grande colapso, como o do ano passado, diminuíram a ponto de poderem novamente ser tratadas como eventos de baixíssima probabilidade (na ponta das caudas de uma distribuição normal, para os fãs de estatística). Porém, como nos filmes de guerra, aparente tranquilidade no mercado geralmente precede grandes turbulências -- a calmaria gera a ilusão de segurança para tomada de riscos grandes e pouco compreendidos, o que é um ingrediente essencial para o próximo colapso. Os ex-clientes de Meriwether devem saber bem disso.

Pisadas de bola (minha e da Época Negócios)

Confesso que pequei. Perdão, caro leitor. Anteontem recomendei, com base em uma leitura diagonal, uma matéria da Época Negócios sobre os novos rumos da pesquisa em economia. A matéria não deixa de ser boa, mas pisa na bola quando fala de Nassim Taleb (ele é o ator citado de quem conheço melhor a obra, pode haver outras pisadas que eu não identifiquei).

Os problemas começam quando os jornalistas escrevem que "Taleb é um sujeito agourento que de mera excentricidade midiática foi promovido a guru". Depois, afirma: "Ele é um ET na economia anglo-saxã", para logo depois dizer que "... formou-se na escola de negócios Wharton... ... Foi como operador no mercado de opções, em Wall Street, que enriqueceu...". Estranho ver como Taleb acabou sendo transformado em um produto da mídia financeira (o pessimista de plantão, pregando a desgraça para uma platéia de otimistas machucados), algo que ele tanto criticou (mas, verdade seja dita, soube capitalizar neste último ano). Creio que a explosão na popularidade de Taleb deve-se a uma coincidência: seu livro sobre eventos imprevisíveis e de grande impacto (cisnes negros), que chama a atenção para diversos aspectos falhos na teoria e prática de finanças e alerta para a inutilidade de previsões em um mundo altamente complexo, foi publicado pouco antes da maior crise financeira em décadas -- crise que, ele mesmo fez questão de esclarecer, não teve nada de "cisne negro": um colapso era previsível, dado o volume de risco que as instituições financeiras estavam carregando de forma complacente. E chamar alguém que estudou numa das escolas de negócios mais prestigiadas dos EUA e fez carreira em diversas instituições financeiras em Nova York de "ET na economia anglo-saxã" é, no mínimo, paradoxal.
A matéria segue dizendo que "economistas profisisonais sérios acham difícil engolir a iconoclastia verborrágica de Taleb", que (isso dito antes) "desenvolveu um estilo único, que mistura insights criativos, nenhuma reverência ao establishment e linguagem acessível". Eu posso não ser um economista profissional (muito menos sério), mas já vi, em um espaço relativamente curto de tempo, bastante pesquisa acadêmica "séria" influenciada pelas idéias de Taleb. É curioso como informabilidade e acessibilidade na escrita são, geralmente, confundidas com falta de conteúdo (e, por outro lado, linguagem obtusa, expressões estrangeiras e fórmulas matemáticas indecifráveis são tidos como sinais de erudição e respeitabilidade). Na minha opinião, nada mais difícil e trabalhoso do que escrever com simplicidade, de forma enxuta e fazendo com que um público leigo entenda conceitos sofisticados. Isso é exatamente o que Taleb faz (para os puristas, ele oferece, na internet, um apêndice matemático).
Fora esses deslizes, a matéria ainda merece ser lida -- mas, fica aqui minha mea culpa, não pode ser considerada "ótima". E segue a constatação que o jornalismo financeiro brasileiro segue carecendo de profissionais que realmente entendam dos assuntos que cobrem.

Frase do dia (talvez do ano, ou das últimas décadas)

"Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".

Beato Luiz Inácio Lula da Silva, na capa da Folha de hoje.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Começa o festival de extrapolação aplicada ao mercado



2010 está chegando, e já é hora dos analistas atualizarem suas projeções cabalísticas. Começaram a chegar na minha caixa de e-mail as previsões de bancos e corretoras para o Ibovespa no final do ano que vem. Minha ambiciosa previsão é que a grande maioria dessas previsões consistirá de extrapolações, mais ou menos requintadas, do movimento de alta da bolsa dos últimos meses. O corolário disso é que, acredito, todas essas previsões serão na direção de um Ibovespa mais alto -- a maioria pelo menos cobrindo o custo de oportunidade até lá. Começo a conferir desde já -- o primeiro exemplo está acima, tirado do relatório de um banco.

O que está por trás do ataque a Vale

No post anterior (já estou escrevendo para leitores seriais... vejam a pretensão), escrevi que ia falar sobre o caso da Vale. Na verdade, pensando bem, sobre o caso em si não há muito o que escrever -- quem acompanha a imprensa está vendo a sequência de atos hostis contra a empresa, vindos de diversas instâncias do governo, nas mais variadas formas. O que preocupa, na verdade, é a motivação política do governo. Novamente: o sucesso relativo dos últimos anos está sendo usado para lubrificar a idéia da necessidade de um Estado maior e com mais influência na economia -- seja para implementar idéias "desenvolvimentistas", ou , simplesmente, para empregar mais "companheiros".
Não vejo problema com idéias "desenvolvimentistas" por si só. Não é difícil procurar na história diversos exemplos de saltos de desenvolvimento induzidos pelo Estado (a grande obra de David Landes, A Riqueza e a Pobreza das Nações, é cheia deles). Aqui, eu destacaria dois contrapontos ao que estamos presenciando: primeiro, que o aumento da presença do Estado na economia não necessariamente é benéfica para o investidor -- sobretudo quando este atua num horizonte de tempo relativamente curto quando comparado com o necessário para a concretização dos eventuais benefícios das políticas estatais (e isso engloba a grande maioria dos que investem no país). O caso da Vale serve de exemplo: talvez, no futuro, seja positivo a companhia transformar em aço o minério que produz para então exportar um produto de maior valor agregado. O problema é que, para isso, investimentos pesados devem ser feitos, num país de custo de capital altíssimo e com os riscos que estão presentes em qualquer empreendimento. A influência disso no valor atual da ação da companhia é altamente questionável, ainda mais contrastada com o otimismo que toma conta do mercado (embora não estejamos vivendo um mercado predominantemente guiado por fundamentos).
O segundo é o foco do governo e sua relação com o momento histórico. Um dos poucos benefícios do atraso no desenvolvimento (novamente citando David Landes) é poder aprender com a experiência passada de outros países, e usá-la para pular algumas etapas. Assim, o Brasil não precisa investir nos mesmos setores "quentes" de 70 anos atrás, sabendo que, por exemplo, hoje em dia a siderurgia cria poucos empregos, consome muita energia e gera pouco incentivo para inovação tecnológica. Menos ainda depois de já ter passado por uma fase de investimentos nesses setores (dona Dilma andou citando a China como exemplo... só esqueceu de lembrar que, numa "sequência evolutiva", eles ainda estão algumas décadas atrás de nós. Para ficar em um indicador, o Brasil atingiu o nível de renda per capita ajustado pela inflação que a China ostenta hoje em 1972). Assim, faria mais sentido incentivar o empreendedorismo e setores capazes de absorver mão-de-obra, quaisquer que sejam -- por que não começar, por exemplo, com um programa para implementar sistemas de esgoto e saneamento básico país afora?
Todas essas observações não são novas, nem originais, nem obscuras, e pouco ideológicas. No caso brasileiro, a idéia do Estado maior não parece estar atrelada a uma tentativa consistente de fazer com que o país dê um salto de desenvolvimento, mas a uma visão de que é necessário aproveitar o momento para concentrar mais poder e/ou implementar idéias atrasadas. Visão, portanto, essencialmente conservadora -- seja no sentido de tentar perpetuar e fortalecer uma classe privilegiada de burocratas, seja na falta de ousadia para mudar e experimentar. Olhando bastante de cima, ainda sigo otimista com o futuro do país, mas devo admitir que parecem ter aumentado as chances de, novamente, darmos dois passos para trás para dar um a frente.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

IOF is back, dear investor

Um mês atrás eu escrevi aqui que Lula e o PT estão aproveitando o momento de relativa calmaria e o sucesso do "modelo brasileiro" durante a crise como argumentos para aumentar a influência econômica do Estado. Se alguém tinha dúvidas sobre essa postura, creio que essas acabaram ontem. Mantega, o çábio, anunciou, após o fechamento do mercado, que a entrada de capital estrangeiro para investimentos em bolsa e renda fixa será taxada em 2% (via IOF). A medida, palavras do governo, visa afastar o capital especulativo, de curto prazo. Praticamente ao mesmo tempo, o ministro de Minas e Energia disse que o governo pode aumentar os impostos do setor de mineração, incluindo o sobre a exportação de minério.

A volta do IOF para estrangeiros (a alíquota tinha sido reduzida a zero há poucos anos) visa, supostamente, conter a apreciação do real contra o dólar (as eleições do ano que vem estão chegando... hora de tentar agradar os exportadores). Começa errando na identificação do alvo: primeiro, porque não é um "problema" específico do real. Praticamente todas as moedas relevantes do mundo estão ganhando contra o dólar. Segundo, as moedas de países produtores de commodities, não por acaso (o clima é de recuperação da economia global, esteja correto ou não), são contra as quais o dólar mais se desvalorizou no ano: real, 35%; dólar australiano, 31%; dólar neozelandês, 30%; coroa norueguesa, 25%; rand sulafricano, 30%. Dessa maneira, qualquer medida local pode, no máximo, atenuar o "problema": se a tendência global do dólar não for revertida (o que, talvez, esteja perto de acontecer, evidentemente por motivos que fogem totalmente do controle do governo brasileiro), o real vai voltar a se valorizar, apenas de um patamar diferente.

Ainda sobre o IOF: se a medida foi tomada efetivamente para afastar o capital de curto prazo, essa distinção deveria ser feita nas alíquotas do imposto: em muitos países, há uma tabela de imposto regressivo, de acordo com o tempo entre o investimento e o seu resgate (e o imposto é cobrado sobre os ganhos de capital, e não sobre o montante total investido). Da forma que foi feita, não há distinção: todos pagam igual, na entrada. A justificativa do governo, nas palavras do çábio: "Se a aplicação for de curto prazo, essa tributação será forte. Por outro lado se a aplicação for de longo prazo, acima de um ano, essa tributação se dilui no tempo, praticamente desaparece". Percebam a arrogância (ou a ignorância) por trás desse argumento: é óbvio que quem investir no Brasil no longo prazo vai ganhar muito, logo os 2% não farão a menor diferença. Olhando para o tamanho dos movimentos da bolsa, pode até parecer pouco; mas, no mundo da renda fixa (pelo qual o Tesouro se financia), onde os movimentos são de décimos de ponto percentual, é uma enormidade.

Por fim, notem que Lula tinha negado as intenções do governo de retomar o IOF para estrangeiros na última sexta-feira. Ou informações não chegam em Cabrobó-PE (onde ele estava), ou ele mentiu. Ontem Mantega disse que havia convencido o presidente naquele mesmo dia, afirmação que provavelmente tem tanto valor quanto uma nota de três reais ou a palavra de um político. Mantega, como sempre, só fez o papel de boi de piranha, e, como de costume, foi o escolhido para anunciar uma medida impopular (nessas horas, dona Dilma se esconde) e, provavelmente, discutida com uma certa antecedência (tanto que já havia vazado no final de semana, na Folha de São Paulo).

Na mesma declaração que mencionei acima, Lula ainda disse que "quando sai uma notícia errada na área econômica quem sofre é o povo brasileiro". Nisso ele está correto: quem vai pagar a conta das consequências da medida, como um custo de financiamento maior da dívida do tesouro e menor disponibilidade de investimentos de estrangeiros, é, de fato, o povo brasileiro. Que pode se preparar para mais trapalhadas vindas de Brasília -- este post acabou ficando grande demais, falo disso e da Vale no próximo.

Novo vídeo de Nassim Taleb

O autor de Black Swan e Fooled by Randomness fala sobre o que está fundamentalmente errado nos EUA.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Palmas para a Época Negócios...

... que traz, em sua última edição, uma ótima matéria (como há muito tempo eu não via na imprensa local) sobre os rumos e as fronteiras da pesquisa acadêmica em economia. Confira lá.

Dica do Batata.

Dr. Trichet e Mr. Jean-Paul

A The Economist escreve sobre a esquizofrenia do Banco Central Europeu -- reclamando da valorização do euro contra o dólar enquanto vê a inflação afundar, sem mexer nos juros. Mais um exemplo de grande sabedoria dos bancos centrais.

Também lá: a crítica a SuperFreakonomics, a sequência do aclamado (adivinhem) Freakonomics.

Bancos e bancos

Há uma piada pouco engraçada da época do apartheid (bem, continua sendo atual) na qual um negro entra em um ônibus e senta em um dos assentos na parte da frente. Um guarda diz que o lugar reservado para negros é no fundo do ônibus, e pede que ele se mude para lá. O negro se levanta e começa um sermão, dizendo: "Imagine se fôssemos todos marcianos, verdes. Seríamos todos iguais, e não haveria discriminação. Eu poderia continuar sentado aqui, então não vou sair". O guarda insiste: "Se isso acontecesse, o lugar dos verde-escuros seria no fundo do ônibus. Pode ir pra lá". Para uma analogia mais tosca e direta, há também uma música de uma banda gaúcha cujo líder é um baixista loiro e cabeludo (dá vergonha falar o nome) cujo refrão é: "todos iguais, todos iguais... mas uns mais iguais que os outros". Enfim, o leitor atento já entendeu o sentido e deve estar irritado com esse parágrafo introdutório longo e desnecessário.

O último texto de Paul Krugman no New York Times fala da diferença entre a performance dos bancos americanos que estão no negócio de conceder empréstimos e dos que tiram a maior parte dos seus resultados de especulação (trading): enquanto a Goldman Sachs voltou a ter lucros espetaculares e provavelmente pagará os maiores bônus da sua história, o Citi e o Bank of America seguem com dificuldades e reportaram prejuízos no terceiro semestre. Todos iguais, todos iguais...

Não tenho absolutamente nada contra especulação: sempre fez parte do mercado, e deve continuar fazendo. O problema é que especulação é um negócio, por natureza, de alto risco -- principalmente quando feita com o nível brutal de alavancagem que a Goldman e outros bancos operam (e assumindo, claro, que eles não contam com a ajuda informações privilegiadas e manipulações de preços). Mesmo argumentando que a Goldman Sachs já devolveu o dinheiro da ajuda federal, o incentivo para o sistema continua sendo totalmente perverso: os outros bancos não demorarão a chegar a conclusão que o que devem fazer para lucrar é usar todo o capital possível para especular; e, mesmo no caso da Goldman, caso algo errado aconteça, a indicação é de que, novamente, não faltará dinheiro público para salvá-los. Fazer com que o dinheiro do contribuinte assuma esses riscos é algo que -- palavras de Krugman com as quais concordo integralmente -- os EUA deveriam evitar desesperadamente.


O gráfico ao lado ajuda a reforçar o ponto de Krugman -- ver no original, "The Chart That Cost John Mack His Job".

Ursos de saias longas

Há na mitologia do mercado financeiro, acredite, uma teoria do tamanho das saias -- pela qual o tamanho das saias da moda são uma indicação da atmosfera do mercado. Pode parecer loucura, mas há um bom racional: para resumir muito, mercados otimistas (bull) incentivam inovação e ousadia; mercados pessimistas (bear) pedem conservadorismo. Com base em uma matéria do Wall Street Journal, que acredita que a tendência para a próxima primavera do hemisfério norte são roupas que lembram os anos 1920, o pessoal da Elliott Wave International fala sobre como o mercado da moda é ligado ao mercado financeiro -- estamos falando do mesmo mundo e dos mesmos tempos, afinal de contas. Não é um gatilho para sair vendendo ações, mas é sempre bom termos idéia de onde estamos pisando.


P.S. Delirando mais um pouco... engraçado ver que em 2000, ano de um dos auges da euforia dos últimos anos, a (boa) banda Cake gravou uma música chamada Short Skirt/Long Jacket. O trecho final da letra:

I want a girl with a smooth liquidation
I want a girl with good dividends
And at the city bank we will meet accidentally
We'll start to talk when she borrows my pen
She wants a car with a cupholder arm rest
She wants a car that will get her there
She's changing her name from Kitty to Karen
She's trading her MG for a white Chrysler La Baron
I want a girl with a short skirt and a lonnnnggggggggg jacket

Os tempos parecem ter mudado, não?

P.P.S. Morte ao site do Wall Street Journal... as páginas têm tanto código escondido que tornam a navegação uma tortura.

Para começar a semana...

É tudo uma questão de expectativas...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Citi em busca do mais idiota (no Brasil)

O Valor noticia hoje que o Citi está estudando uma abertura de capital de sua unidade brasileira (ou sozinha, ou junto com o Banamex, a subsidiária do México), inspirado pelo sucesso da emissão do Santander Brasil. Porque alguém vai querer ser sócio de um banco praticamente quebrado é um mistério, mas o fato, acredito, reforça uma idéia minha: há algum tempo escrevi sobre a "the greater fool theory", onde alguém compra um ativo esperando que, no futuro, consiga vender a um preço maior para outro, mais idiota.

O mercado de ações parece estar operando guiado por essa idéia, já que é necessário um cenário muito otimista para justificar os preços e o oba-oba atuais. Veja a fila de empresas que estão esperando para emitir ações e arrancar algum dinheiro do mercado; há poucos fatos e muitas esperanças (o caso mais emblemático no Brasil é o das empresas do Eike Batista). Geralmente o "greatest fool" é o investidor individual, que demora a ter acessou às informações e é movido pela euforia. Desta vez, não deve ser diferente.

Fronteiras da análise técnica

Take a look below at the Velociraptor pattern forming in USZ9 (uniquely characterized by the two purple legs and one green and one white).





Recebido por e-mail.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os novos dólares

Há algum tempo escrevi um texto como convidado para o blog do Balu dizendo, entre outras asneiras, que chegaria um dia em que os EUA terão que cortar zeros do dólar e emitir novas notas, coloridas e com estampas de astros do rock. Agora, em tempos de fraqueza do dólar, Richard Smith, um designer de Nova York, acredita que a moeda americana precisa de um "desing makeover", e abriu seu site para propostas de outros artistas para o novo layout do dólar, com resultados (apesar das motivações totalmente diferentes) próximos da minha "profecia". Veja os mais bacanas:

A proposta futurista, do próprio Smith:


The king of all, Sir Duke (por Dean Potter):

A mais cool: Lady Day, por Christina DiMeo:

Jack Nicholson e o hotel de O Iluminado, por David Muller:


Versão clássica, com Adam Smith (de Kyle Thompson):


Aguardo a série com os Simpsons... e constato a semelhança de algumas dessas notas com as lindas cédulas de cruzeiros, cruzados, novos cruzados e afins que tivemos por bastante tempo por aqui. Coincidência?
A matéria de onde tirei as notas é do The Big Money; foi citada na Folha de hoje.

Serra na piauí

A essa altura já não é mais novidade, mas só fui ler hoje: a piauí deste mês faz um grande e interessante perfil de José Serra, o (por enquanto) favorito para a corrida presidencial do ano que vem. Vale a leitura, especialmente comparada ao perfil da Dilma que a mesma revista publicou em duas partes (aqui e aqui).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O Brasil que não dá certo

Alguns gráficos chocantes (clique para aumentar):


Mais no Inca Kola News, de onde afanei os gráficos.

Se a bandeira representa o país...

... esta é das mais honestas já feitas. Império de Benin, estado da África pré-colonial, situado onde hoje é a Nigéria:




Via Chris Blattman.

Falando em moeda...

Não resisti:


Alba = Aliança Bolivariana para as Américas = Associação de Amigos do Chavez. Formada por Equador, Venezuela, Cuba, Bolívia, Antígua e Barbuda, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, Honduras e Dominica. Em busca da "soberania econômica" e "soberania na política monetária". A pergunta que fica é se os cleptocratas entre os envolvidos continuarão mantendo suas contas no exterior em dólares, euros, francos suíços ou em "sucres", a tal moeda comum.

Resfriado, dólar, bolsas

Estive ontem e estarei hoje praticamente fora do ar, por conta de um resfriado, cortesia da minha baixa resistência e da amplitude térmica selvagem de São Paulo (30ºC no domingo, 15ºC ontem). De qualquer forma, o mercado segue no mesmo tom de "compre tudo, venda o dólar" dos últimos meses, e eu já estou desmoralizado e sem nada a acrescentar ao debate. Só me resta esperar algum colapso e tentar posar de guru, mesmo se eu errar o pessimismo por diversos meses (ou anos).

Para os ainda interessados, o site do Financial Times tem um bom texto de Martin Wolf sobre o dólar e um gráfico interativo mostrando os movimentos da moeda americana contra diversas outras moedas. Volto amanhã, ou quando conseguir levantar.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

E o Nobel de economia vai para... uma mulher

Os membros do comitê se livraram do mico de confirmar o favoritismo de Eugene Fama. Dividiram o prêmio Oliver Williamson (Berkeley) e Elinor Ostrom (Indiana e Arizona State), esta a primeira mulher a receber o prêmio em seus quarenta anos de história. O trabalho dos dois é na área de governança corporativa -- mais não posso dizer, ignorante que sou no assunto.

A Folha destaca hoje o ano das mulheres no Nobel: cinco foram premiadas (veja o box aí do lado). Será que estamos mesmo entrando em uma era mais feminina? Para alguns, a crise do ano passado foi o auge da predominância do "macho alfa" (se tiver tempo, leia o excelente texto de Michael Lewis sobre a Islândia, publicado na Vanity Fair de abril). Seguirei acompanhando.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A memória curta do mercado - reedição

Já escrevi sobre a GWI aqui. Minha opinião não mudou. Ou o gestor é maluco, ou é desonesto. Nenhuma das possibilidades é boa para o investidor. Eis que a gestora volta a ganhar destaque na mídia, aparecendo na capa da revista mensal de investimentos do jornal de finanças mais lido do país. A matéria (disponível para assinantes aqui) começa reconhecendo que "não há mágica no mercado financeiro: altos retornos implicam riscos elevados" e que o gestor da GWI "parece conhecer bem esse jogo". Digressão: eu creio que devemos desconfiar de qualquer um que trata investimentos como jogo. Enfim... em maio, tal gestor mandou uma carta aos cotistas dizendo que, para levar de volta o valor da cota do GWI FIA ao patamar de janeiro de 2007 (partindo de junho de 2009), era necessário um retorno de 1,333%. Porém, se os cotistas aplicassem mais, poderiam recuperar mais rapidamente o valor investido, necessitando de um rendimento de "apenas" 835%.

Ainda devo escrever mais sobre risco reputacional, ou sua ausência -- do qual o caso da GWI é um exemplo gritante. Por enquanto, estou tentando refletir sobre se os mercados devem ter uma dimensão moral. Sugestões de leitura sobre o tema são muito benvindas.

Obama, Nobel da Paz

Acordei hoje surpreso com a notícia que Barack Obama foi laureado com o Prêmio Nobel da Paz. Primeiro, porque há dois anos a grande maioria do mundo nunca tinha ouvido falar no então senador por Illinois; mas, principalmente, pelo cargo que ele ocupa atualmente. Desde 1919 o prêmio não era dado a um presidente americano durante seu mandato (naquele ano, Woodrow Wilson recebeu-0 pela fundação da Liga das Nações) e, provavelmente, o prêmio deste ano é um dos mais carregados em significados políticos na história recente.

Quero destacar duas leituras possíveis (outras tantas certamente se espalharão pela mídia nos próximos dias): a primeira, do passado, é um grande repúdio à Era Bush. O prêmio foi concedido a Obama "por seus extraordinários esforços para fortificar a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos" -- justamente pontos em que George W. Bush falhou grandiosamente, com sua postura de pouco ligar para a opinião internacional quando resolveu se meter em guerras no Oriente Médio. A segunda, olhando para o futuro, parece ser um grande voto de confiança (ou de esperança) na capacidade dos EUA continuarem sendo a "polícia do mundo", numa conjuntura onde o maior poder econômico deve ser, em breve, uma tecnocracia com pouco apreço pela liberdade individual. É particularmente interessante esse sinal estar vindo num momento em que uma cidade americana foi a primeira eliminada na escolha final para a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 e em que a moeda americana, grande expressão da credibilidade do país, é dada como "morta" (ver o post abaixo).

O "porém" é que, em bem pouco tempo, Obama conseguiu frustrar muitas expectativas de uma mudança nas estruturas do mercado financeiro, mesmo tendo a imensa oportunidade de levantá-lo de uma montanha de entulho. Talvez esse tenha sido o preço que ele pagou por sua entrada para o establishment. Depois disso, espero que, ao menos, ele consiga entrar para a história como um conciliador e o responsável pela mudança de uma postura de repúdio a uma grande democracia que tomou conta de uma boa parte do mundo nos últimos anos.

Update: a The Economist opina.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Crônica de uma morte anunciada

O The Independent decretou, ontem, a morte do dólar. A lógica do mercado tem sido: se o dólar não vale mais nada, todos os preços cotados em dólar têm que subir. Veja o gráfico: o índice de commodities (CRB), o ouro e um índice agregado de ações globais (MSCI) andam juntos quando o dólar (DXY) cai (está em escala invertida no gráfico).



Prafraseando Richard Nixon (por coincidência, o homem que desvinculou o valor do dólar do ouro), somos todos operadores de câmbio agora. Para onde for o dólar, irão os demais preços de ativos. Mundo perigoso, este em que vivemos.
Para uma visão que tenta ir além do óbvio, leia este texto.

A economia não aprende...

E eis que o favorito ao Nobel de Economia, a ser anunciado na próxima segunda-feira, é o pai da teoria dos mercados eficientes (clique para ver a tabela aumentada). Dá uma certa vergonha pela classe...

Via Greg Mankiw.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Que pena, flipper...

Do Globo:


Parece que a "estratégia vencedora" falhou... Um bom exemplo para quem acha que "flipar" IPOs é sinônimo dinheiro no bolso.


Quente... quase queimando

Está na Folha de hoje: Jim Cramer, apresentador da CNBC conhecido por berrar na TV suas recomendações para o mercado de ações (algo como se o Marcio Canuto, aquele repórter histérico da Globo, começasse a opinar sobre o mercado), juntou-se ontem ao crescente fã-clube do Brasil no exterior. Suas previsões estão na legenda da foto ao lado. Cramer é famoso por, entre outras presepadas, recomendar a manutenção de investimentos na Bear Stearns no dia anterior ao banco quase quebrar e ser vendido para o JP Morgan (depois de suas ações caírem 92%). Quem compra ações de companhias brasileiras nos níveis atuais definitivamente não está em boa companhia...

A mão invisível e os bancos centrais

Ontem o Banco Central da Austrália foi o primeiro entre os das grandes economias a iniciar um movimento de alta do juro de um dia. A Elliott Wave International usa esse episódio para argumentar, com dados, que os bancos centrais apenas expressa um movimento que já é feito pelo mercado, e que seu poder, portanto, é bastante limitado. Alguém pode avisar isso a um tal senhor Meirelles?

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Porque não me empolgo com o rali do Ibovespa

Fato: o Ibovespa é composto de 63 papéis, sendo uma média ponderada por volume de negociação (grosso modo) dos preços desses papéis. Petrobras e Vale correspondem por cerca de 1/3 do valor do índice. Com isso em mente, é razoável assumir que uma alta no índice que não seja puxada por esses papéis deve ter por trás uma valorização grande dos papéis com peso menor.

Dito isso, veja as ações que mais subiram no índice neste segundo semestre (clique para aumentar):



Nada de Vale, nada de Petrobras. Os destaques são: três construtoras (cujo negócio, por natureza, é alavancado e de fluxo de caixa negativo), uma mineradora de uma holding que vive de vender promessas e esperanças, uma usina de açúcar e álcool (várias estiveram a beira da falência no final do ano passado), uma companhia aérea (negócio que, nas palavras de sir Richard Branson, se destaca por transformar bilionários em milionários), duas varejistas (margens baixas e muita concorrência), uma indústria química (dependente do preço do petróleo) e uma companhia de papel e celulose. Note que as ações ordinárias da Petrobras estão entre as piores performances nesse período (as preferenciais acumulam alta de cerca de 6%) -- ou seja, quase nada da alta de 21% no Ibovespa desde 30 de junho teve contribuição da empresa com maior peso.

Meu ponto principal é que, para o mundo real confirmar a linda história de sucesso que o Ibovespa está contando, tudo tem que correr bem, sem saltos, sem sustos e com todos querendo comprar o que o Brasil produz / vende. Talvez isso aconteça; mas, no mundo das probabilidades, creio que as chances são bem menores do que a convicção com a qual o mercado tem operado.

Hadji Yatmaz

Hadji Yatmaz, aprendi hoje, é o nome pelo qual o nosso popular João Bobo (o boneco inflável que sempre para em pé) é conhecido no Líbano. Essa foi a analogia usada para o Brasil em um interessante (e extremamente cético) texto que está hoje no Inca Kola News. Vale a leitura, sobretudo em um ambiente em que todo mundo ama o país e parece esquecer seus inúmeros problemas.

Em tempo: eu não concordo com todos os argumentos. Sobretudo, acho que o país resolveu um problema de contas externas que foi o grande entrave a alguma estabilidade nos últimos anos. E os níveis de preços, principalmente das ações, parecem bastante descolados da realidade. O João Bobo ficou de pé rápido demais.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Gráfico do dia - Xenofobia

Três países do Leste Asiático -- Tailândia, Indonésia e Malásia -- são os menos favoráveis à presença de trabalhadores de outros países (clique no gráfico para aumentar). Esse e outras dezenas de dados interessantes estão no belíssimo último relatório do PNUD, cujo tema é mobilidade humana e desenvolvimento. Dá até vontade de voltar a ser economista de verdade.

Você sabe que algo está errado com o mundo...

... quando o FMI aconselha os países latino-americanos a acumular menos reservas e manter déficits em conta corrente.

Mais no blog da Patrícia Campos Mello.